Wuxia total!
O kung fu sempre rendeu bons filmes, desde as produções da antiga companhia Shaw Brothers fundada em 1930, grande produtora de filmes em Hong Kong, até as contemporâneas. Evidentemente este gênero não apetece a todos os gostos sendo que muitas pessoas o acham violento ou exagerado, assim me dispus a ressaltar que muitos abordam questões humanas e românticas justificando os exageros e a violência ao longo desta resenha.
O diretor Stephen Chow tem se notabilizado nos últimos anos pelos seus filmes de teor fantástico e no mínimo original, já que costumam conter várias referências ao cinema Ocidental e Oriental. Aqui no Hemisfério Ocidental não conhecemos tanto as produções de comédia que na China existem aos montes, sendo que as que fazem mais sucesso por lá costumam ser lançadas diretamente em DVD no Brasil, esse fato tem as suas exceções, é o caso do Kung Fusão.
A história se passa na China dos anos 40, uma época em que máfias e gangues dominavam bairros, definindo status e vida confortável para os seus colaboradores. Sing, praticamente um mendigo vislumbra poder fazer parte desse grupo de respeitadas pessoas, no seu ímpeto arruma confusão em um cortiço pobre cuja propriedade é de um casal bastante peculiar. Eis que somos apresentados aos senhorios, um deles a mulher gorda, usa bobes enormes, fuma a toda hora e possui um temperamento explosivo, seu marido o senhorio está sempre de pijama de seda listrado, bebendo e mexendo com as mulheres da redondeza. Quando Sing está para ser rechaçado do local um mal entendido provoca o aparecimento da temida gangue do machado, a situação fica tensa e a gangue pressiona as pessoas com a ameaça de atear fogo em uma mulher, na iminência da tragédia um carregador de mercadorias desfere um chute impressionante que arrasa um dos participantes da facção, daí para frente o filme começa a mostrar sua cara.
Como pontos fortes destaco a presença de atores de peso no cinema chinês, Yen Qiu, Yuen Wah, Chiu Chi ling dentre muitos outros que já participaram de filmes com Bruce Lee, além de terem sido elenco de ótimos filmes de kung fu. A fotografia é muito bonita com fulgurantes cores quentes e tomadas noturnas de atmosfera mágica, o figurino ressalta a época com lenços no coloridos no pescoço, calçados chamativos, vestidos detalhados para as mulheres da cidade e vestimentas neutras retratando as pessoas mais pobres. As tomadas feitas de diversos ângulos foram muito bem feitas principalmente nos momentos de ação, exigindo uma edição competente. Os efeitos especiais são muito bons apesar de alguns estarem ultrapassados, em relação à época em que foi lançado e tipo de filme, os efeitos são caprichados. Porém, o maior triunfo artístico desse filme e que integrou com peso o meu gosto musical, foi a composição da trilha ser tocada pela Orquestra Chinesa de Hong Kong. Belíssimas melodias características das produções antigas de filmes chineses, com a regência do diretor de arte e maestro Yan Huichang. Esse maestro de muita habilidade não só conduz a orquestra de forma cadente como possui a fluidez nos gestos referentes aos sons, mas voltando ao filme os instrumentos chineses combinam perfeitamente com os ambientes e situações, sejam os Erhus (violino chinês) em primeiro plano musical os Gehus (violoncelo chinês) e os Yang Qins (saltério martelado) como acompanhamentos, há sempre a presença enérgica de vários outros instrumentos milenares nos temas de fundo das cenas.
As lutas são um ponto de discussão e reclamação de muitas pessoas por serem consideradas exageradas, a explicação está no gênero chamado Wuxia pian constituído por histórias, lendas e obras cinematográficas que fazem menção à guerreiros de extremo poder e capacidade de canalizar sua energia interior o ’’ Chi’’ para alcançarem excelência nos combates, por isso que os personagens de Bruce Lee nos filmes demoram para se machucar, ou com golpes supostamente fracos visulamente, conseguem abater seus oponentes. Se uma pessoa que consegue canalizar seu Chi der um soco com liberação de energia Chi em grande quantidade, não precisará realizar muito esforço e o inimigo será nocauteado, há vídeos de pessoas que conseguem tal feito, um homem consegue mover uma fila de pessoas só com essa energia....balela? vai saber...
O coreógrafo de ação é ninguém menos do que Yuen Woo-ping o mesmo de Matrix, então não temos do que reclamar, Sammo Hung, famoso produtor, diretor e ator também participou do projeto mas só desenvolveu a primeira luta, por motivos de saúde teve que se afastar.
Prepare-se para ver personagens interessantes, um comerciante que usa um bastão, exímio em saltos e defesa, um alfaiate afeminado que utiliza argolas de ferro para dar um upgrade na sua força, detentor do estilo Hung Gar de luta, uma mulher capaz de gritar e estilhaçar vidro ,madeira e o que estiver pela frente.
Para não prolongar muito o texto e cansá-lo leitor, termino por aqui minha tentativa de divulgação e projeção do filme que pode te proporcionar cultura como me proporcionou, basta observá-lo com profundidade e se perguntar o porquê de tantos golpes diferentes, estilos de kung fu mirabolantes, e música cativante, afinal, tudo tem um motivo e o DVD conta com Making-of completo.
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